Rio Paiva
nas montanhas do norte,
eriçadas ao céu,
há um vale profundo que uma serpente de água
decide cavar à passagem,
como sempre o fez.
serpente efémera de eterna renovação
cujos segmentos estagnam e aceleram
na formação do seu movimento perene.
absorvo o segredo inviolável da vida -
coabitação ancestral -
matrimónio inocente e absoluto.
mergulho nas águas -
as árvores sobre os dorsos montanhosos,
celebram a vida - oscilam festivas.
em queda oblíqua, as chuvas
repicam o caudal - verde, baço, vítreo,
e a serpente acorda desse movimento adormecido.
tremumlam-lhe as escamas de cristal.
decido trespassar-lhe a substância,
até esse âmago incorrupto.
flutuo à superfície, de braços abertos e olhos
cerrados.
sou um grão de humanidade no seio puro
dos silêncios naturais.
tormentos existenciais,
são de um momento que não é este.
existo sem consciência humana -
a eterna aflição.
o coração abranda, a paz floresce.
abdico do que de humano há em mim.
abraçado por uma força milenar,
transmuto-me numa flor aquática:
e nunca fui tão nada.
e nunca fui tão completo.
eriçadas ao céu,
há um vale profundo que uma serpente de água
decide cavar à passagem,
como sempre o fez.
serpente efémera de eterna renovação
cujos segmentos estagnam e aceleram
na formação do seu movimento perene.
absorvo o segredo inviolável da vida -
coabitação ancestral -
matrimónio inocente e absoluto.
mergulho nas águas -
as árvores sobre os dorsos montanhosos,
celebram a vida - oscilam festivas.
em queda oblíqua, as chuvas
repicam o caudal - verde, baço, vítreo,
e a serpente acorda desse movimento adormecido.
tremumlam-lhe as escamas de cristal.
decido trespassar-lhe a substância,
até esse âmago incorrupto.
flutuo à superfície, de braços abertos e olhos
cerrados.
sou um grão de humanidade no seio puro
dos silêncios naturais.
tormentos existenciais,
são de um momento que não é este.
existo sem consciência humana -
a eterna aflição.
o coração abranda, a paz floresce.
abdico do que de humano há em mim.
abraçado por uma força milenar,
transmuto-me numa flor aquática:
e nunca fui tão nada.
e nunca fui tão completo.
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