quinta-feira, janeiro 12, 2006

Não te aninhes aí...

Era a noite no céu e no corpo dos homens. Eram as cabeças submergidas nas almofadas e as persianas desmaiadas, seus mil olhos fechados. Era o frio na face e no metálico dos lampiões que ainda assim resistiam com os cabelos em chamas.
Mesmo antes da entrada da minha casa estaquei do passo ligeiro que me levava. Olhei para cima e senti o vento roçar-me as orelhas - segredava-me o mistério no seu silvo. E eu juro que ouvi o rumor - lá em cima - o rumor das estrelas que explodiam ao longe, o bafo dos seus últimos suspiros, a força dos músculos de gás. Dei por mim rodeado em caos, uma destruição longínqua que cercava a noite e o sono das pessoas. Agradeci às mãos que arrastavam o lume para trás e olhei para as folhas de uma palmeira que farfalhavam por sobre o silêncio...Sorri ao vê-las existir.

Dói? Certamente. Dói ainda mais nunca ter doído. Quem sofre, existe, e só quem existe tem a oportunidade de ser feliz. O sofrimento são as sombras onde por vezes estacas, cansada, mas és tu que escolhes se é aí que te queres aninhar.

Lírico? Eu? Talvez, mas, indiscutivelmente, esta fé está em todos nós, subliminar. Se assim não fosse era bem provável que já toda a gente tivesse dado um tiro na cabeça.

Pablo Neruda diz:



Só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade:
Aquela que nunca amou,
E esse é o maior dos sofrimentos: não ter por quem sentir saudades,
Passar pela vida e não viver.
O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido.”

Hoje de manhã, quando acordares, abre a janela e consagra-te ao sol. Esvazia a cabeça e existe, pode ser que os teus lábios se rasguem num sorriso.


Um beijo.

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