quarta-feira, fevereiro 22, 2006

Envelope de ideias



"...
E agora, diante da Tânger Soto, pensava na mulher da escuna. No fim de contas, disse para consigo, talvez uma e a outra sejam a mesma, e a vida dos homens gire sempre em torno de uma só mulher: aquela onde se resumem todas as mulheres do mundo, vértice de todos os mistérios e chave de todas as respostas. Que maneja o silêncio como ninguém, talvez por ser uma linguagem que, há séculos, fala na perfeição. A que possui a lucidez sábia de manhãs luminosas, de ocasos vermelhos e mares azul-cobalto, temperada de estoicismo, tristeza infinita e fadiga para as quais - Coy tinha essa estranhe certeza - uma única existência não basta.
..."

O Cemitério Dos Barcos Sem Nome
Arturo Pérez-Reverte

Um dia pensei-o com bastante claridade, ele, além disso, executou-o em palavras. São assim os grandes escritores: tochas fulgorosas, desgastando a penumbra que tolda certos sentimentos. Equacionam ideias em parágrafos, para que estas se tornem transmissíveis, e posteriormente, no coração de cada receptor, novamente as ideias originais (ou quase). Matemáticos de palavras. Envelopes sem destinatário, onde os sentimentos, dobrados em quatro, viajam de Homem para Homem.

1 Comentários:

  • Esta tua última frase encheu-me o peito de alegria e os olhos de lágrimas. Sempre adorei o que escreves...

    Por Blogger Inês, Às 5:20 da tarde  

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