quarta-feira, maio 10, 2006

Lapa, à hora dos funerais




Na cidade
uma torre
de granito

Na rua
a um dia
sucede um outro dia

Pela tarde
os sinos
trá-los o vento ao sotão

lembram
as horas que passam

toda a solidão do mundo


João Pedro Mésseder




Um sotão de madeira e cimento; a luz, filtrada pelas nuvens grossas e escuras, espalha-se em nevoeiro. Vejo-te no centro, debruçado sobre a folha branca. Desligaste o rádio para que a efervescência das pessoas que cruzam as ruas, lá em baixo, te endureça o coração e torne a escrita um impulso premente. Hesitas a mão, o mínimo de certeza antes de qualquer coisa... De repente o dobrar dos sinos, lânguidos e desprendidos, anexados ao vento que rompe pelas frinchas propositadas dessa janela inclinada. Sentes uma enorme pena de ti mesmo e essa auto-comiseração mete-te nojo mas é te impossível fugir-lhe, sabes isso tão bem...

E é então que decides o poema com uma lágrima... que não choras.

0 Comentários:

Enviar um comentário

Subscrever Enviar feedback [Atom]



<< Página inicial