segunda-feira, julho 14, 2008

Colhe todo o oiro

Colhe
todo o oiro do dia
na haste mais alta
da melancolia.


Eugénio de Andrade

São 12:00, acabei agora o trabalho que tinha a fazer na Ordem de São Francisco. A Ribeira é já aqui ao lado. Desço-lhe ao âmago... Um esqueleto gigante segura a margem e é de granito que esses ossos cinzentos são feitos: os arcos as colunas e os muros grossos e altos. As casas sempre empinadas sobre a fronteira dessas paredes de castelo, à espera de se lançarem no rio (?). É a hora do sol vertical, e a pique caem gotas de oiro fundido... e só no rio esse oiro arrefece, numa crosta flexível que se torce ao sabor da ondulação. Entre a superfície da água e o céu, refluxos violentos de brilho, da luz que tomba e da que ascende.

A tua imagem não sei de onde...

Estico-me num banco qualquer, sinto nas costas a madeira quente e fendida, pouso a mala do portátil debaixo da cabeça e decido: hei-de colher todo o oiro... E assim o fiz... Na haste mais alta da melancolia.