sábado, novembro 19, 2005

Poemas suados...

Nenhum poema acontece momentaneamente em palavras. Primeiro há a "ideia", o indízivel.
Só depois,sílaba a sílaba, se traçam os contornos, às vezes de forma desenvolta, outras vezes em jeito de paridura trabalhosa.

O Poema é um acto ímpossível. Um exercício de transfiguração com perdas. No entanto, basta que apenas um rumor desse impossível nos chegue através das palavras para que algo em nós soe a sagrado.

sexta-feira, novembro 18, 2005

Viðrar Vel Til Loftárása

(Sigur Rós)

I Slide Forward
Through My Head
I Think Half Way
Backwards
See Myself Sing
The Anthem We Wrote Together
We Had A Dream

We Had Everything
We Rode To The End Of The World
We Rode Searching
Climbed Skyscrapers
Which Later Exploded
The Peace Was Gone
Balance Leaks Out
I Fall Down

Slide Forward
Through My Head
I Always Return To The Same Place
Total Silence
No Answer
(But) The Best Thing God Has Created
Is A New Day


Amanhã será. Expressão muda de palavras, o agitamento da atmosfera até às raízes do meu absoluto esquecimento enquanto singular, como um nervo que arde... O som perecível de um concerto ao vivo, o meu "primeiro". Há na música um mistério de sempre, uma comunicação sensorial sem qualquer organização lógica, um estado efémero de iluminação que desaparece mal nos arranha, ou que por vezes nos sustém dentro dele como um abraço de pavor que se solta devagar... No fim um frémito de luz pelo corpo, uma impressão umbilical, uma qualquer lágrima de felicidade que nos banha o coração...

quarta-feira, novembro 16, 2005

Adeus, anjo do passado, o futuro não é nosso


Vieram do passado de mãos fundidas
E com os peitos ensanguentados...
Trouxeram o protesto melancólico
Da extinção do seu amor...

“Hoje somos vontades paralelas
Que não se intersectam.
Memórias de cristal
Que se partem, mal são tocadas.
Como tudo o que não importa...”

Antes,
Nunca um beijo lhes unira a carne
E no entanto
Eram de peitos abertos um para o outro.
E quando juntos (ainda sem se tocarem),
seus corações entoavam cânticos
Que ao tocarem no céu,
Coagulavam em felicidade...

(...)

Acordo...
Sonhei connosco, tão densa essa irrealidade,
Éramos nós afiados em lágrimas,
trilhados de dor,
rasgados em derrota,
fendidos de fatalidade...

Aceitar...
Beijamo-nos para nunca mais...

sexta-feira, novembro 04, 2005

A dor incontornável do Vaidoso

trago no corpo o odor humano do esquecimento,
o suor de ter corrido...

e quando o lavar da minha pele,

vou-me recordar, progressivamente,

da minha banalidade.

Em seguida, depois de me secar,

vou ler estas palavras.

Relembrarei a minha auto-comiseração,

e tornar-me-ei mais vulgar.
E aí, terei ainda mais pena de mim

e sentir-me-ei um pouco mais trivial.


No fim, já com a dor em brasa,
um vago conforto:

De que no reconhecimento da minha nulidade,
devaneia, tenuemente,

uma fé de singularidade...